Médico de Homens e Almas


 

Há uma mania varrendo os Estados Unidos. Esta nova onda, segundos os especialistas, vai percorrer o mundo. Trata-se dos tablets, mais especificamente do IPad da Apple. Você vai ler seus livros nele, navegar pela internet, mandar e-mails, consultar sua agenda, jogar... Hufa!

Segundo o jornalista americano John C. Dvorak é a primeira vez que os tablets se tornam populares. E tudo porque seus desenvolvedores mudaram o paradigma. Antes eles tentavam mimetizar a prancheta, agora os tablets não ficam atrás dos notebooks. Aliás, os desktops, os nossos amados PCs de mesa, num futuro próximo serão usados apenas por aqueles que desejarem trabalhar com fotos, vídeos ou tarefas digamos "pesadas". Este mesmo jornalista acredita que haverá cada vez menos programadores desenvolvendo softwares para o computador de mesa. Uma vez que a demanda para programas para o IPad e afins irá crescer enormemente.

Esta semana pude manipular um IPad. Confesso que fiquei encantado. É muito leve. Sua relação com o usuário é muito amigável e intuitiva. Lembra os celulares em que você apenas passa o dedo pela tela, arrastando coisas para que outros ícones de funções surjam diante de seus olhos. A oportunidade de ter um nas mãos surgiu por acaso, em uma visita ao neurologista; que por sinal, diga-se se passagem, conseguiu me impressionar tanto pelo seu intelecto, quanto pela sua espiritualidade. Até porque não é todo o dia que você sai de um médico levando duas receitas: uma para o físico e outra para a alma. Porque além dos nomes dos remédios ele também me prescreveu alguns salmos da Bíblia.

Sofro de enxaqueca. E nas últimas duas semanas ela não tem me dado trégua, atrapalhando até o meu desempenho profissional. E a ida ao médico revelou que a gente às vezes exagera. Dorme pouco e trabalha muito, quando na verdade não custava nada deixar um dia da semana para o descanso. Ele, o médico, me disse: "Você está estressado, cara. Claro que você precisará de medicação por pelo menos dois meses. Mas, se não mudar a atitude continuará a voltar a me ver". Confesso que falar com ele mais vezes me agradaria muito, mas não como paciente. Apesar de que a companhia do doutor valeu cada centavo que paguei pela consulta, mesmo tendo dois planos de saúde!

Aproveito para narrar aqui o episódio que vivi: como estava a mais de uma semana me entupindo de analgésicos, entendi que o jeito seria tentar encaixar uma consulta com o neurologista de um dos meus planos de saúde. Fiz-lhe uma visita, o qual fui informado de que ele só me atenderia em agosto. Tentei, diante de uma "secretária da SS" (com cara de nazista e tudo), argumentar dizendo que os remédios que estava tomando já não faziam mais efeito e que eu poderia "esperar" (na verdade não podia), quem sabe o último a ser atendido. Ela, por sua vez, em resposta me disse que não seria possível, pois o doutor teria de viajar naquele dia em razão de um problema de saúde na família... Mas, que se eu pagasse a consulta (particular) ele poderia me atender! Nem preciso dizer aqui, caro leitor, a raiva que fiquei. Senti-me lesado e desamparado. No entanto, "serenamente", contando até dez, solicitei àquele poço de educação e gentileza (que mal me olhou no rosto quando cheguei) que devolvesse o meu cartão do plano de saúde, porque iria procurar outro médico. E foi o que eu fiz. Já que tinha de pagar, pagaria a outro médico. Que ultraje!

Foi o que eu fiz, paguei a outro neurologista que me proporcionou alívio, e de quebra a oportunidade de vir a conhecer o IPad. O que para um aficcionado pela leitura como eu, já era de se esperar que estivesse ansioso por conhecer. Até porque o IPad é tão fantástico que a tela simula uma estante com os livros digitais já na memória do aparelho. Basta um toque na obra de sua escolha para começar a leitura, cujas páginas são literalmente folheadas, tal qual na mídia impressa. É de encher os olhos.

Realmente, caro leitor, Deus sabe o que faz e os homens não sabem o que dizem. Não era mesmo para aquele médico, que só me receberia se eu pagasse fora do plano, me atender. Senão como eu poderia ter conhecido o outro médico, que receita remédios para o corpo e para a alma.


 


Luciano Borges/ Professor de Comunicação e Escritor

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