Chão Preto


 

Vento gelado bateu em meu rosto, me diz que é agosto... Estamos a alguns dias da maior festa de peão do Brasil. Para a terra de Francisco Barretos os olhares do mundo se voltam.

O clima na cidade muda. A cidade ganha outros ares, o ar fica mais seco e um tanto gelado. Por isso, há quem desengavete cachecóis, luvas, bacias com água e as espalhe pela casa, toalhas de banho molhadas são dispostas nas janelas... E não bastasse tudo isso, a secura nos lábios ao acordar nestas novas manhãs de agosto, ainda temos que conviver com a "neve negra" que encontramos sobre as mais diferentes superfícies de nossas casas. Esta "neve", caro leitor, é nada menos, nada mais, do que as tão desejadas queimadas da palha da cana-de-açúcar, que insistem por cobrir o "Chão Preto" – para quem sabe até justificar a alcunha (o apelido) da cidade.

Pode-se encontrar esta "fuligem", – a que me referi no parágrafo anterior – por exemplo, uma hora depois de você ter acabado de lavar o carro. Ou ainda, você acabou de almoçar, é domingo, dia de descanso, em que uma ou duas horinhas para o cochilo vão lhe fazer muito bem; afinal, aquela soneca após o almoço é capaz de revigorar tanto o corpo quanto a mente. No entanto, antes de deitar, você olha para a cama e nota: o resíduo tóxico da queimada está na fronha do seu travesseiro, pelo lençol e no tapete onde você deixa os chinelos. Ou seja, acaso mantenha a casa fechada de segunda a sexta porque durante o dia está no trabalho, aos finais de semana ela nem pode "respirar" pelas janelas. Porque se você deixar uma única fresta, já viu!

É de conhecimento geral que a queimada é uma prática que geralmente se realiza em meses com menores índices de umidade. Meses em que pela falta de chuvas diminui-se sensivelmente a possibilidade de dispersão dos poluentes. Em outras palavras, estão lançando grandes quantidades de resíduos no ar, altamente prejudiciais a saúde da população, com autorização da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Depois, orientam a gente para economizar água...

Dia desses, era pela hora do almoço, sai de casa, sentido bairro-centro, quando na primeira curva me deparei com uma grande nuvem negra que se movia em direção aos bairros Nova e City Barretos. Aflito, parei o carro para telefonar para minha casa. A moça que nos ajuda atendeu e eu lhe disse. Não sei o que você vai fazer, Teca, com as roupas que acabou de lavar, porque há uma queimada acontecendo atrás do frigorífico e a fuligem está indo na sua direção...

Estou feliz que o Ministério Público Federal já tenha tomado uma providência no sentido de suspender este que é um atentado silencioso contra a qualidade de vida. E, convenhamos, a alcunha de Chão Preto que Barretos possui não deve ser levada ao pé da letra, isto é, de forma tão literal, não é mesmo? Aliás, para que uma terra seja realmente boa, ela precisa oferecer um ar de preferência limpo e no mínimo respirável.


 

Luciano Borges – Professor e Especializando em Psicopedagogia

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