Comunicação e Debate

Debate eleitoral. Nesta última quinta-feira, cinco de agosto, um seleto grupo de candidatos a presidência da república se enfrentaram em um debate promovido pela tevê Band. Mas para que serve um debate mesmo?

Um debate, pelo seu significado denotativo, se caracteriza pela troca de ideias em que se alegam razões favoráveis ou contras, com vistas a uma conclusão. Mas será que se almeja apenas apresentar as propostas de governo?

Carlos Melo, cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em matéria recente a uma revista de grande circulação, comentou: "Esse Debate foi um aquecimento para a campanha que ainda não começou. Foi morno, burocrático e pouco aprofundou as questões importantes".

Ainda que os candidatos falassem de temas importantes para o Brasil, como: economia, saúde, educação, reforma agrária, desigualdade, infraestrutura, meio ambiente e segurança, o que mais se observou foi o traquejo apresentado pelos candidatos enquanto apresentavam seus argumentos. Isto é, a experiência, a perícia em comunicar.

Um candidato, por exemplo, não pode demonstrar insegurança diante das câmeras. Do mesmo modo que um aluno sente – seja ele do nível médio, fundamental, técnico ou da graduação – ao ter que apresentar um trabalho diante da classe. Espera-se que um político seja um comunicador eloquente, que use estratégias de comunicação, que fale com espontaneidade, sem tropeços verbais. Aliás, a dicção perfeita é um dos pré-requisitos para uma boa oratória. No entanto, se a pessoa (aluno apresentando um trabalho, palestrante, político etc.) não explorar o discurso objetivo, fazendo uso de repostas curtas e claras, corre o risco de dizer muito sem com isso concluir nada. Em outras palavras, este é o tipo de discurso indigesto, seja pela linguagem empolada, seja pelo abuso de termos técnicos.

Em um debate, a comunicação começa já no visual dos opositores. A maquiagem aliada ao figurino pode estragar ou melhorar a imagem do debatedor; envelhecê-lo ou mesmo apagá-lo, acaso o tom de sua roupa se misture a cor do cenário. A linguagem por sua vez, se não for ritmada com começo, meio e fim, pode soar desconfortável; situação que geralmente se caracteriza pela fala entrecortada, que não deixa o discurso fluir e faz o ouvinte (plateia, telespectador) perder o interesse. E, pode-se somar a este item, a repetição de expressões como "a gente" em vez de "nós" que empobrece o vocabulário do opositor que a use com frequência. Sem falar da repetição de uma palavra a exaustão, que logo vira uma muleta e pode cansar os ouvintes. É o caso do "né", "olha" etc. No que se refere à postura de um debatedor, esta assumi um lugar de destaque na comunicação não verbal. Sim porque se a pessoa que está argumentando o faz com excesso de movimentos das mãos, sem querer pode atrapalhar a leitura de deficientes auditivos ao passá-las na frente do rosto. Movimentar muito braços, corpo e olhos podem provocar dúvidas quanto à veracidade do que se diz. Não podemos nos esquecer do conteúdo do discurso que deve ser sempre objetivo, didático e direto.

O fato é que apesar dos candidatos desfrutarem de uma gama de profissionais de comunicação a sua disposição (especialistas em televisão, construção de imagem, treinamento de mídia, publicitários/marqueteiros etc.), poucos são literalmente presidenciáveis. Isto porque, a rigor, um presidenciável é todo aquele que possui qualidades para ser eleito presidente. Alguns dos que aí estão, caro leitor, sequer sabem falar de forma adequada. Já exigir que completassem um raciocínio, em lugar de gaguejarem, seria pedir demais. Outubro vem aí, pense nisso!


 

Luciano Borges – Professor de Comunicação e Escritor

www.luciano-borges.blogspot.com

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Um comentário:

Íris Andrade disse...

Comunicação é o gesto, é o gosto, é o toque, é a fala!
Adoro seus textos Luciano!

Beijos